O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, vai depor nesta terça-feira (10) no Senado dos Estados Unidos, para os grupos do Judiciário e do Comércio, Ciência e Transporte, e no dia seguinte no Congresso, para o Comitê de Energia e Comércio. É comum para quem vai testemunhar o envio de um rascunho sobre o que será dito e a reunião de quarta-feira (11) já tem um adiantamento das palavras do executivo da rede social. Ele destaca que “não fizemos o suficiente para evitar que essas ferramentas sejam usadas também para causar danos” e “foi meu erro e me desculpe”.
Abaixo, o resumo das partes mais importantes do documento, que é descrito em primeira pessoa pelo próprio Zuckerberg e foi publicado online nesta segunda-feira (09).
Pedido de desculpas e promessa de mais rigor
Zuckerberg começa apontando que o Facebook se tornou uma ferramenta poderosa de comunicação e integração com várias pessoas, comunidades e empresas, citando movimentos como o #metoo, contra o assédio sexual, e a arrecadação de mais de US$ 20 milhões de ajuda para as vítimas do Furacão Harvey.
Não tivemos uma visão ampla da nossa responsabilidade, e isso foi um grande erro
“Mas agora está claro que não fizemos o suficiente para evitar que essas ferramentas sejam usadas também. Isso vale para notícias falsas, interferência estrangeira em eleições e discursos de ódio, bem como desenvolvedores e privacidade de dados. Não tivemos uma visão ampla da nossa responsabilidade, e isso foi um grande erro. Foi meu erro e sinto muito. Eu comecei o Facebook, corri e sou responsável pelo que acontece aqui.”
Além de assumir os erros, ele garante que a companhia está comprometida em fazer tudo melhor, especialmente com relação à privacidade e relacionamento com processos eleitorais. “Levará algum tempo para trabalhar em todas as alterações que precisamos fazer, mas estamos comprometidos em fazer tudo certo. Isso inclui melhorar a forma como protegemos as informações das pessoas e salvaguardamos as eleições em todo o mundo.”
Como a Cambridge Analytica teve acesso aos dados?
O CEO faz um rápido resgate histórico das razões pelas quais o Facebook passou permitir apps de terceiros com informações pessoais e de amigos, a exemplo de softwares relacionados a calendários, com datas de aniversários.
Jornalistas disseram que dados de pesquisa foram compartilhados com a Cambridge Analytica. É contra nossas políticas para desenvolvedores compartilhar dados sem o consentimento das pessoas
“Em 2013, um pesquisador da Universidade de Cambridge, chamado Aleksandr Kogan, criou um aplicativo de teste de personalidade. Ele foi instalado por cerca de 300 mil pessoas, que concordaram em compartilhar algumas de suas informações no Facebook, bem como dados de seus amigos, cujas configurações de privacidade permitiram. Dada a maneira como nossa plataforma funcionava na época, isso significava que Kogan conseguia acessar perfis de dezenas de milhões de pessoas.”
Zuckerberg afirma que isso levou a plataforma a limitar a quantidade de dados que um app pode garimpar de seus usuários. Mas, já era tarde demais. “Em 2015, jornalistas do The Guardian disseram que Kogan compartilhou dados de seu aplicativo com a Cambridge Analytica. É contra nossas políticas para desenvolvedores compartilhar dados sem o consentimento das pessoas, então imediatamente banimos o app da nossa plataforma. Exigimos a Kogan e outras entidades informações sobre o destino desses dados, incluindo a Cambridge Analytica, e a certificação formal de que esses dados fossem todos deletados — o que eles acabaram fazendo.”
Só que, como sabemos, os dados não foram exatamente apagados. “A Cambridge Analytica afirma que já apagou os dados e concordou com uma auditoria forense de uma empresa que contratamos para investigar isso. Também estamos trabalhando com o Escritório do Comissariado de Informações do Reino Unido, que tem jurisdição sobre a Cambridge Analytica, conforme conclui sua investigação sobre o que aconteceu.”
Ações imediatas para evitar um novo caso Cambridge Analytica
Foram listados três pontos principais para que novos vazamentos de dados por apps de terceiros ocorram novamente. O primeiro, que trata sobre o livre acesso de desenvolvedores sobre os perfis dos usuários, ganhou cinco destaques:
- Os desenvolvedores não poderão acessar dados de usuários caso os mesmos tão tiverem usado o app em um período de três meses
- Redução de dados cedidos a apps de terceiros, apenas com nome, foto de perfil e email, o que já é menos do que a maioria das plataformas oferece
- Desenvolvedores vão ter que confeccionar não apenas um texto para aprovação do app, assim como um contrato que impõe requisitos rigorosos para solicitar acesso a suas postagens ou outros dados privados
- Restrição de conjuntos de aplicações, como grupos e eventos, para evitar que as informações compartilhadas em grupos possam vazar para outras esferas
- Não é mais possível encontrar alguém pelo número de telefone, pois já foi registrado o caso de email violado por conta desse recurso. Era útil para tirar dúvidas sobre pessoas com o mesmo nome, mas passou a ser usado de forma abusiva e a ferramenta foi encerrada
Além disso, continua a investigação sobre o uso indevido de informações relacionadas ao caso Cambridge Analytica e qualquer um que estiver fazendo proveito disso será banido e exposto. E o terceiro ponto aqui assegura que o Facebook está mostrando de maneira mais fácil os apps que você usa e maneiras simples de remover suas permissões.
Interferência russa nas eleições
“Fomos lentos demais para identificar e reagir à interferência da Rússia e estamos trabalhando muito para melhorar. Nossa sofisticação no tratamento dessas ameaças está crescendo e melhorando rapidamente. Continuaremos trabalhando com o governo para entender toda a extensão da interferência russa”, diz o texto.
Zuckerberg afirma que estava ciente de hackers e malwares russos já há algum tempo e no dia do pleito estadunidense, no dia 8 de novembro de 2016, foram detectadas “inúmeras ameaças ligadas à Rússia, como as atividades do grupo chamado APT28, o qual o governo dos Estados Unidos ligou publicamente aos serviços de inteligência militar russos”.
O APT28 seria o responsável pelos vazamentos de mensagens do alto escalão estadunidense, os chamados DC Leaks, e também pela criação de falsos perfis, utilizados para semear informações roubadas junto a jornalistas. Ao desativar essas contas, o Facebook notou que o buraco era mais profundo.
Ameaças coordenadas por uma rede de manipulação
Depois das eleições, Zuckerberg afirma que sua equipe de segurança continuou encontrando mais ameaças, incluindo uma rede coordenada de manipulação, a partir do uso de contas falsas. Esses agentes promoveram ataques a candidatos e causas, criando desconfiança e confusão, com o auxílio de ferramentas de publicidade.
Agência gastou ceca de US$ 100 mil em mais de 3 mil anúncios mal-intencionados
A chamada Agência de Pesquisa da Internet (Internet Research Agency — IRA) russa teria agido na Europa, Estados Unidos e Rússia com cerca de 470 perfis e páginas, que geraram aproximadamente 80 mil posts em dois anos no Facebook, com uma estimativa de 126 milhões de pessoas afetadas nesse período. A IRA gastou cerca de US$ 100 mil em mais de 3 mil peças de publicidade, que foram vistas por mais de 11 milhões de pessoas no Face e no Instagram, antes de ter seu cadastro desativado, em agosto de 2017.
A varredura continua no Instagram e até agora já foram encontradas 120 mil objetos relacionados, com audiência de mais de 20 milhões de pessoas sobre esse material.
Medidas para evitar novas interferências em pleitos
Obviamente, novas medidas estão sendo realizadas para evitar que os mesmos erros ocorram novamente. Zuckerberg apresenta quatro pontos para isso:
- Criação de nova tecnologia para evitar abusos: desde 2016, foram criados novos mecanismos para a remoção de contas falsas, com a ajuda da inteligência artificial. Desde então, já foram desativados 30 mil registros na França, mais de 270 novas páginas controladas pela IRA e centenas de spammers
- Investimento em segurança: 15 mil pessoas já estão trabalhando e mais 20 mil devem ser contratadas para os setores de segurança e revisão de conteúdo
- Fortalecimento das políticas de publicidade: o próprio Congresso deve apresentar sugestões com relação a isso e o Facebook já passou a exigir autorização para veiculação de material eleitoral, transparência sobre os anúncios que uma página está distribuindo, verificação de gerentes de sites grandes, entre outras ações
- Rede colaborativa: trabalho conjunto com outras companhias, para que haja uma rede colaborativa de identificação de agentes que possam causar ameaças a processos eleitorais
Agora, cabe ao Congresso fazer outros questionamentos
Enfim, esse foi o resumo do que Zuckerberg deve apresentar no testemunho da quarta-feira (11). Obviamente, ele deve falar muito mais do que isso e podem ter certeza que o Congresso também virá munido de perguntas sobre o que não está nesse documento — como, talvez, questionamentos sobre uso de dados em outros setores, a exemplo da área médica.
Além disso, o CEO também deve responder às indagações de dois grupos do Senado. A semana é quente e agitada para o cocriador do Facebook.
Fonte: Tecmundo